terça-feira, 23 de agosto de 2016

ele não precisa ter rosto...

Dizem que são como talismãs que conferem proteção a quem os toca.
Que são veículos para outros mundos, que invocam espíritos e curam...

O silêncio do Red Rock State Park, em Sedona, era entrecortado pelo barulho quase imperceptível da água correndo suavemente por seus canyons vermelhos e suas encostas quase verticais, marcando o compasso da terra, um ritmo que parecia ser o do mundo. O cenário era deslumbrante.
Já teria bastado.
Mas a vida, surpreendente como é, quis mais.

Algo acontece no silêncio.
Um tum-tum-tum vindo da floresta, do rio.
Um tum-tum-tum-tum-tum-tum-tum-tum-tum difuso, contínuo e sucessivo.
Era um tambor, eu sabia, mas qual tambor ? 
E... vinha de onde ?
Caminhei em direção ao som até que finalmente vi aquele homem.

Meu coração se oculta nas sombras, entre as folhagens na beira do rio.
Fiquei ali um tempo longo e indefinido, de cócoras, não querendo ser vista, com medo de que, sendo, ele saísse daquele estado emocional mágico e todo o Universo se desfizesse.

Era um homem maduro, grande, forte, parecia estar ali sem estar.
O rosto escondido pelo tambor xamanico me permitia somente a sombra de seus contornos.
Bastava.
Tudo foi ficando disperso a minha volta. Sentia só a gravidade, o cheiro da terra, e um pertencer nunca antes vivenciado.
Experiências assim devem ser respeitadas.

Pretendo seguir sem nunca saber que você é.
Mas te agradeço, porque tua viagem me levou contigo.
Felizmente existem os canyons.
E essa saudade é um infinito inteiro dentro de mim.

Solange Maia

(Fotografia tirada em 'Red Rock State Park', em Sedona, Arizona, em 03/10/2015)

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